![]() |
O estrangulamento do negro George Floyd pelo policial branco Derek Chauvin, dia 15 de maio, recrudesceu nos Estados Unidos uma onda de protestos não observada desde o assassinato de Martin Luther King, em 1968. Embora o vídeo da vítima asfixiada até a morte tenha despertado indignação mundo afora, as manifestações antirracismo eclodiram de maneira mais intensa e intensa naquele país. Destamparam o vapor de tensões raciais históricas. Ao encontro delas partiu o repórter Luís Nachbin, também professor do Departamentio de Comunicação da PUC-Rio. Há 15 dias ele está mergulhado não propriamente dos desdobramentos da tragédia, mas no seu complexo e secular pano de fundo. O resultado desta incursão será visto em agosto, no documentário “Black and White” (título provisório), 70 minutos, para o Canal Brasil.
A ideia de filmar o documentário nasceu assim que os protestos se alastraram pelos EUA. Foi aprovada imediamamente pelo Canal Brasil. Não tardaria a ser concretizada. "Minha ideia é construir uma reflexão ampla e profunda sobre a histórica questão do racismo na sociedade americana", sintetiza Nachbin.
Talvez o mais difícil tenha sido abandonar a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus. O sangue de repórter venceria o confinamento compulsório. "Levei aproximadamente duas semanas para decidir se deixaria a quarentena, ou não. Como tenho passaporte americano, pois o meu pai era professor da Universidade de Rochester, a minha cidade natal, pude entrar no país. Tão logo o Canal Brasil se entusiasmou pela ideia, tomei o caminho que o meu sangue de jornalista indicava", conta ele, com idisfarçável empolgação.
Acompanhado só da câmera, como costuma fazer nos 30 anos de estrada profissional, Luís Nachbin roteiriza, produz, grava, entrevista, edita. Estende o olhar para testemunhar e compreender a História. Já percorreu quase dois mil quilômetros até o sul dos Estados Unidos, amealhando observações, informações, imagens, conversas. Elas convergem para o desejo de debulhar um contexto que extrapola o assassinato de George Floyd e as consequentes manifestações de repúdio. "Está havendo um processo de transformação estrutural que marcará a História. Eu precisava documentar a realidade atual com a minha câmera e com o meu olhar", justifica Nachbin. Ele completa: "Estou sozinho no processo de filmagem ,o que faz parte, em geral, da linguagem audiovisual que adoto".
O documentário se passa em três locações: Atlanta, Nova Orleans e Orlando, onde o repórter está. "Já gravei manifestações, muitas entrevistas e um projeto social no bairro mais afro de Orlando", anima-se. Esse meticuloso trabalho de reportagem poderá ser visto no Canal Brasil a partir da segunda quinzena de agosto. Até lá, Nachbin compartilha bastidores da produção no Instagram. Saborosos aperitivos do que virá.